Você sente segurança ao especificar iluminação em seus projetos? Você sabia que existem erros de projeto que prejudicam totalmente o resultado da iluminação, mas que são muito comuns no mercado e, por incrível que pareça, facilmente evitáveis? Neste texto eu vou te explicar quais são e como evitá-las.
A luz artificial é um elemento muito importante para o nosso bem-estar e é uma das mais fantásticas ferramentas da arquitetura. Ela pode transformar os ambientes para o bem ou para o mal.
Quando bem trabalhada, confere dimensão e cria novas dinâmicas nos espaços, além de ressaltar acabamentos, jogando com sombras e contrastes e produzindo efeitos que valorizam o ambiente, a edificação e o paisagismo.
Mas o bom uso da luz exige sensibilidade, porque significa entender também quando a sombra ou a escuridão deve acontecer. Nós enxergamos por contraste e necessitamos biologicamente do escuro e da penumbra.
Projetar iluminação, portanto, não é algo simples, exige muitos cuidados, e há alguns erros de projeto que são bem recorrentes nos projetos de iluminação que prejudicam totalmente o resultado.
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1. Pontos de luz focada em frente ao espelho do banheiro
É bastante comum vermos instalações de lâmpadas de foco como lâmpadas dicróicas ou lâmpadas PAR sobre a cuba, em frente ao espelho do banheiro.
Para entender mais facilmente o porquê isso é um erro de projeto, veja a imagem abaixo:
Essa é uma simulação de luz aplicada de forma totalmente vertical, exatamente sobre a cabeça da pessoa. Veja como se formam sombras bem marcadas no rosto. Os olhos e as bochechas ficam completamente escuros e a boca e o pescoço praticamente não são vistos.
Avaliando uma situação um pouco mais comum, seria a iluminação sobre a cuba do banheiro, entre a pessoa e o espelho. Veja o efeito obtido:
Neste caso o efeito fica um pouco melhor, mas existe um enorme desequilíbrio na quantidade de luz no rosto. A área da testa e do nariz estão muito bem iluminadas, porém as bochechas, a boca e o pescoço permanecem escuros, o que também não é uma boa situação.
Para se obter uma luz homogênea no rosto, o ideal é utilizar uma luz difusa de frente para o rosto e não sobre a cabeça. Como no exemplo abaixo:
Veja que neste caso o rosto está iluminado como um todo, de maneira muito mais uniforme e equilibrada.
Pense nas atividades que são realizadas na frente do espelho, como se maquiar ou se barbear. Essa iluminação não faz muito mais sentido?
Como iluminar
Para obter esse tipo de luz é bastante simples, havendo um ponto de energia na parede do espelho, é possível colocar uma arandela de luz difusa de cada lado do espelho, ou utilizar perfil de LED em todo contorno do espelho ou ainda colocar luz por trás do espelho, fazendo o efeito backlight.
Porém, não sendo possível essa aplicação, uma possibilidade é instalar uma luz no teto que seja homogênea, que não produza sombras marcadas. E o ideal é que essa iluminação seja instalada sobre a bancada da pia e não no teto no centro do banheiro para iluminar a pessoa pela frente.
2. Iluminar jardins com luz verde
Você já reparou que um jardim iluminado com luz verde fica todo manchado? As flores? Verdes. As copas das árvores? Verdes. Os troncos das árvores? Verdes. Tudo da mesma cor, sem valorizar as características naturais da vegetação.
Isso acontece porque a luz verde não tem capacidade de reprodução de nenhuma cor que não seja o próprio verde. Por isso todas as outras cores ficam manchadas.
Iluminar um jardim com luz verde descaracteriza o ambiente e pior, ao invés de valorizar a vegetação faz exatamente o contrário, deprecia toda a beleza natural.
A luz branca já tem uma característica de reproduzir as outras cores, já que a luz branca é resultado da união de várias cores (lembra do prisma que a gente estuda no colégio?).
É possível enxergar as diferentes tonalidades de verde, a cor do piso, a cor dos troncos das árvores. Assim sendo, o ambiente ganha vida, as cores e texturas são reveladas, a natureza é valorizada e o jardim recebe o destaque que merece.
3. Utilizar luz direta em quarto de bebê
Nas fases iniciais da vida os olhos do bebê não estão totalmente desenvolvidos e é bastante importante evitar o ofuscamento e contrastes bruscos de luz e sombra.
Pensando nisso, utilizar a luz direta de forma indiscriminada em quartos de bebê pode representar um grande malefício para o principal usuário do espaço.
Em outro post aqui do blog, nós vimos que a luz indireta tem as seguintes vantagens:
- Tende a ser mais suave, difusa e agradável;
- Não atinge diretamente os olhos: previne o ofuscamento e garante conforto visual;
- Maior uniformidade: não são gerados grandes contrastes de luz e sombra;
- Não emite calor diretamente para o ambiente;
- Confere charme ao ambiente.
Dessa forma, podemos dizer que o ideal é utilizar luz difusa para a iluminação geral e, se puder ser indireta, é melhor ainda.
Isso não significa que não se possa utilizar luz direta e inclusive luz de destaque com fachos marcados, porém é importante ter muita cautela e responsabilidade. Uma iluminação como esta jamais deveria ficar sobre o berço ou sobre o trocador, por exemplo.
Por outro lado, utilizar a luz direta para destaque da decoração do quarto é super bem vinda. Só é necessário se certificar de que essa luz não vai ficar no campo visual do bebê.
4. Temperatura de cor adequada
O quarto ponto está relacionado à temperatura de cor, que é um conceito já bem difundido que está relacionado à tonalidade da luz branca.
A luz mais amarelada – também chamada de luz quente – é a que tem temperaturas de cor mais baixas (até 3300K) e a luz branca mais azulada – também chamada de luz fria – é a que tem temperaturas de cor mais altas (acima de 5300K). A temperatura de cor neutra está entre essas duas (3300K a 5300K).
Mas muitas pessoas têm dúvidas sobre qual temperatura de cor utilizar em cada situação de projeto.
Estudos indicam que a luz mais fria estimula o foco, a concentração e a produtividade, enquanto a luz quente tem um poder relaxante, é mais confortável.
Sendo assim, de uma forma geral o que se tem como diretriz para uso de temperatura de cor numa residência é que os ambientes de trabalho como cozinha, lavanderia e até mesmo o banheiro utilizam luz fria. Já em ambientes de relaxamento e convivência como sala de estar, sala de jantar ou nos quartos, se usa mais a temperatura de cor mais quente.
E isso é extrapolado também para ambientes comerciais, escritórios tendem a usar uma luz neutra ou mais fria, enquanto spas, por exemplo, usam uma luz mais quente.
Sem dúvida, essa diretriz ajuda a tomar as decisões de projeto no dia a dia. Mas há outras questões que precisam ser levadas em consideração.
A luz pode ser vista e avaliada por diversos pontos de vista: simbólico, de percepção, de gosto, de estilo etc.
Perspectiva simbólica
Olhando pela perspectiva simbólica, a luz quente está geralmente associada a ambientes de alto padrão. É a temperatura de cor que normalmente se vê nas casas de alto padrão, restaurantes refinados, lojas de alta costura ou lojas de joias por exemplo.
Percepção
Pelo lado da percepção, algumas pessoas sentem que a luz branca fria ilumina mais.
Comparando duas fontes de luz de mesmo fluxo luminoso, uma de luz fria e uma de luz quente, essas pessoas sentem que no ambiente iluminado pela luz fria tem mais luz.
Isso está associado ao contraste, é como o olho humano enxerga. Quando a luz é mais fria, os contrastes ficam mais evidentes e podem realmente passar essa sensação de que está iluminando mais.
Outra questão relacionada à percepção é que a luz fria transmite uma sensação mais refrescante, enquanto a luz quente transmite uma sensação de maior acolhimento, de mais aconchego.
Como consequência, algumas vezes em cidades muito quentes, as pessoas tendem a preferir temperaturas de cor mais frias como forma inconsciente de refrescar o ambiente.
Dessa forma, mesmo que o projeto em questão seja numa sala de estar de uma casa de alto padrão – que se fosse pela regrinha utilizaria luz quente – pode ser que o cliente prefira utilizar a luz fria.
Perspectiva de gosto e estilo
E ainda tem a questão de gosto e estilo, que são questões individuais e ligadas a experiência de vida, as influências recebidas, as interações feitas ao longo dos anos e a carga sentimental que cada elemento tem para cada pessoa.
Arquitetura do ambiente
Por fim, outra questão que não pode ser ignorada é a arquitetura do ambiente.
Misturar diferentes temperaturas de cor num mesmo ambiente não necessariamente é algo ruim, desde essa decisão seja tomada de forma consciente e não simplesmente seguindo uma regra imposta.
Em um ambiente único que agrega vários usos como uma sala de jantar integrada com cozinha, por exemplo, não é mandatório utilizar luz quente na sala de jantar e luz fria na cozinha. Não existe nenhum impeditivo de se usar luz quente na cozinha, desde que o nível de iluminação necessário seja respeitado.
5. Iluminação de destaque dirigida para superfícies brilhantes
O último erro de projeto que eu gostaria de destacar é iluminar superfícies brilhantes com luz de destaque, o que leva a este tipo de situação da imagem. Repare no forro de gesso:
Iluminar a mesa espelhada com luz de foco gerou esse reflexo no forro. No projeto o forro é pensado com muito cuidado para ficar limpo, organizado, bonito e o reflexo causado pela superfície brilhante interfere e prejudica totalmente o visual.
Além de, pela reflexão da luz, possivelmente causar desconforto visual para quem está sentado próximo a mesa.
E esta situação é válida para todo tipo de superfície brilhante, não apenas espelhos: inclui vidros, revestimentos de alto brilho, madeiras com vernizes brilhantes etc.
Conclusão
Através do estudo desses 5 erros de projeto fica claro que há diversas questões, além das puramente técnicas, envolvidas no projeto de iluminação.
O estudo e a aplicação da iluminação demandam sensibilidade, empatia e o entendimento das diversas nuances e características da luz e da iluminação.
Além disso, a iluminação demanda estudo contínuo e atualização constante tendo em vista a alta velocidade da evolução das tecnologias.
Espero que tenha gostado deste artigo!